“Ainda jovens, nossos antepassados, saíram de suas casas, da longínqua Itália, deixando para trás a história de suas vidas, seus parentes e seus amigos, trazendo consigo alguns pertences e recordações. Em comum todos tinham o sonho de começar uma nova vida, fugindo da fome, da falta de emprego,dos baixos salários, do alto aluguel das terras.""...traziam consigo esperança, uma fé inabalável e uma enorme vontade de vencer.”*Paulo Cesar Zanatta

Com o objetivo de preservar histórias e a cultura de nossos antepassados, no dia 30 de novembro de 2006, criamos a Comunità Italiana Di Araçá. Assim, buscamos resgatar um pouco de nossas raízes, além de reunirmos descendentes italianos e simpatizantes em eventos sociais e culturais.

Venha participar conosco!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

NO TEMPO DA COLÔNIA

Armando Tulio (Curitiba, PR)*

I primi anni se ciamava “L’asilo delle Moneghe”


O velho colégio das Irmãs do Sagrado Coração de Jesus é para mim, um dos marcos a compor a história do tradicional bairro curitibano, Santa Felicidade.

Uma das necessidades sentidas pelos venetos depois de 12 anos de Brasil era a falta de escola. Padre Brescianini, formalozou pedidos ao monsenhor Scalabrini na Itália e, junto com a superiora geral das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, trataram de providenciar atendimento ao pedido. A construção da casa das Irmãs e da escola se deu no ano de 1899, sua total conclusão em 1900. Em seu termino em junho de 1900, Brescianini partiu para a itália, onde oficializou a vinda junto a ele, das primeiras Irmãs. A chegada ao Brasil se deu em outubro do mesmo ano.

No tempo em que meu pai ali estudou, o colégio que posteriormente se chamou "Imaculada Conceição" era conhecido como asilo das crianças, e as irmãs lecionavam no idioma italiano. Português era apenas uma das matérias.
São cinco, as gerações de minha família que estudaram no Colégio. Assim, esse tempo vilão tatuou lembranças maravilhosas em minhas recordações.

Sempre moramos em frente ao Colégio. Por isso, fizemos dele nossa segunda casa. Para se ter uma ideia de nossa relação com ele, as primeiras irmãs até ajudaram minha mãe nos cuidados para com os filhos. Quando adoecíamos, por exemplo, era a irmã Guilhermina que ia à nossa casa aplicar injeções.

Conheci as lousinhas nas quais meu pai e irmãos escreviam, sentados nos longos bancos e usando como mesa os próprios joelhos. Presenciei a mudança desse sistema pelo de carteiras com tinteiro e a entrada de professores não-freiras e as transformações nos prédios que compõem o Colégio. Nos meus sessenta e cinco anos assisti todas essas mudanças, conheci a maioria das irmãs que por ali passaram e guardo saudades imensas dos tempos que naquele Colégio estudei.
As aulas pela manhã findavam perto do meio dia, mas, voltava ao Colégio à tarde, onde passava meu tempo entre a cozinha, o galinheiro e o horto, já que ao sair para trabalhar, minha mãe nos deixava com as irmãs. Nosso retorno para casa se dava quando minha mãe por ali passava com o pesado cesto de roupas, que havia lavado na fonte d’água localizada atrás do Colégio, nas terras de Luiggi Esmanhotto.

A catequese era feita no Colégio. Assim, era possível ouvir no meio das tardes, os acordes do piano e os cânticos religiosos entoados pelas crianças. Esses sons invadiam o ar da pacata Colônia daquele tempo.

Sinto saudades do velho prédio, da sala onde tive minhas primeiras aulas de piano com a irmã Benigna. Saudades das magnólias do meio do pátio. Aquelas sob as quais sentávamos para lanchar. Saudades dos três grandes cedros dispostos em frente ao velho prédio, cujas raízes salientes tropeçávamos ao correr. Saudades das noites que dormíamos no Colégio para cuidar, enquanto as irmãs iam aos retiros espirituais. Saudades dos professores, dos colegas que já partiram e dos que ainda vivem. Sinto orgulho ao dizer e não me canso de repetir que tive a felicidade de estudar neste Colégio.

Se hoje sou feliz, minha felicidade ali começou. Aliás, aos que pensam que a felicidade é uma meta a ser atingida, afirmo que estão enganados. A felicidade nos vem em pedacinhos, em pequenos momentos. Na verdade, em doses. Por isso, sempre digo: artista é aquele que consegue juntar, unir esses pequenos momentos transformando-os num todo. Atente: esta é a fórmula para ser feliz. Muitos desconhecem isso e passam a vida inteira dizendo que serão felizes quando ganharem na sena ou quando se aposentarem...etc e tal.

* Armando Tulio mora em Curitiba e publica textos sobre a Cultura Italiana no Jornal Cidade Notícias - Curitiba, PR.

Armando, grazie!!!

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